Ciência descobre navio de guerra naufragado há 250 anos em ilha escocesa

 

Um navio de guerra do Império Britânico, que também participou da caça às baleias, foi identificado como responsável por um naufrágio ocorrido em 1788 próximo à ilha de Sanday, na Escócia. A descoberta, feita por cientistas e moradores locais, movimentou a comunidade e trouxe novos detalhes sobre a história naval da região.

Ben Saunders, da Wessex Archaeology, supervisiona os madeirames do naufrágio de Sanday enquanto são colocados em um tanque de água doce para preservação — Foto: Fionn McArthur/Wessex Archaeology via AP

Um esqueleto de navio surgiu entre as dunas da pequena ilha após uma tempestade em fevereiro de 2024. Pesquisadores e moradores identificaram os restos como pertencentes ao Earl of Chatham, embarcação do século 18 com papel importante na história militar britânica e na caça comercial de baleias.

A identificação foi possível graças à combinação de tecnologia avançada e à participação ativa da comunidade local. O arqueólogo Ben Saunders, da organização britânica Wessex Archaeology, destacou que o envolvimento dos moradores foi fundamental para o sucesso da investigação.

“Se fosse em outro lugar, talvez não houvesse esse esforço coletivo para recuperar, estudar e proteger os restos da embarcação”, afirmou Saunders.

Do império à indústria baleeira

Antes de se chamar Earl of Chatham, o navio era conhecido como HMS Hind, uma fragata de 24 canhões construída em 1749, na cidade de Chichester, no sul da Inglaterra. Participou de momentos importantes da expansão britânica, como os cercos de Louisbourg e Quebec, no Canadá, durante as disputas contra a França nos anos 1750. Também atuou como escolta de comboios durante a Guerra da Independência dos Estados Unidos, nos anos 1770.

Desativado pela Marinha Real em 1784, foi vendido, rebatizado e convertido em baleeiro, navegando até as águas geladas da Groenlândia. Naquela época, o óleo de baleia era vital para a Revolução Industrial, usado como combustível e lubrificante em máquinas e luminárias urbanas.

A última viagem ocorreu em 1788, quando o navio naufragou próximo à costa de Sanday durante uma forte tempestade. Os 56 tripulantes sobreviveram, o que, segundo Saunders, reforça a sorte atribuída à embarcação.

Vestígios revelados pelo clima

A tempestade que revelou os destroços removeu a camada de areia que os protegia há séculos. Moradores usaram tratores e reboques para transportar cerca de 12 toneladas de madeira de carvalho da praia até o centro de patrimônio local, onde as peças estão conservadas em tanques de água doce.

Análises de dendrocronologia, que determinam a idade da madeira pelos anéis de crescimento, indicaram que os troncos vieram do sul da Inglaterra e datam de meados do século 18. Com esses dados, pesquisadores cruzaram informações históricas até confirmarem que os restos pertencem ao Earl of Chatham.

Patrimônio local e alerta para mudanças climáticas

O projeto discute agora formas de exibir permanentemente os restos do navio no Sanday Heritage Centre. Para os cerca de 500 moradores da ilha, a descoberta é mais do que uma relíquia — é parte viva da identidade local.

“A sensação é de que o passado está sempre ali, visível ou logo abaixo da superfície”, disse Ruth Peace, voluntária na pesquisa.

Além de ampliar o conhecimento sobre a história marítima da região, a descoberta alerta para um fenômeno crescente: as mudanças climáticas e as alterações nos ventos e na costa britânica podem fazer com que novos achados como este se tornem mais frequentes.

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