Voto do ministro Cristiano Zanin definiu julgamento; ministros ainda discutem penas.
A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) condenou nesta quinta-feira (11) o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) a 27 anos e 3 meses de prisão no julgamento da chamada trama golpista.
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| O ex-presidente Jair Bolsonaro no dia do julgamento que o condenou por trama golpista — Foto: WILTON JUNIOR/ESTADÃO CONTEÚDO |
Do total, 24 anos e 9 meses correspondem a pena de reclusão (regime fechado) e 2 anos e 9 meses a detenção (semiaberto ou aberto). Como a soma passa de 8 anos, Bolsonaro deverá iniciar o cumprimento em regime fechado.
Por 4 votos a 1, os ministros consideraram o ex-presidente culpado em cinco crimes apontados pela Procuradoria-Geral da República (PGR) relacionados aos atos golpistas que tentaram impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva, entre o fim de 2022 e o início de 2023.
Além de Bolsonaro, a Turma também condenou outros sete réus, entre ex-ministros, militares e auxiliares do ex-presidente:
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Alexandre Ramagem, ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin);
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Almir Garnier, ex-comandante da Marinha;
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Anderson Torres, ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança do DF;
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Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional;
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Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência e delator da trama golpista;
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Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa;
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Walter Souza Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil.
Os ministros ainda precisam definir a dosimetria das penas, ou seja, o tempo exato que cada condenado terá de cumprir.
A Primeira Turma do STF é formada pelos ministros Alexandre de Moraes (relator), Flávio Dino, Luiz Fux, Cármen Lúcia e Cristiano Zanin (presidente do colegiado).
Placar da votação
O julgamento teve diferentes resultados porque o ministro Luiz Fux divergiu dos colegas em alguns pontos e a denúncia contra Alexandre Ramagem não foi totalmente analisada.
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Bolsonaro, Garnier, Torres, Heleno e Nogueira – foram condenados pelos crimes de organização criminosa, golpe de Estado, tentativa de abolição violenta do Estado democrático de direito, dano qualificado e deterioração do patrimônio tombado. O placar foi de 4 a 1, com votos a favor de Moraes, Dino, Cármen Lúcia e Zanin e divergência de Fux.
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Alexandre Ramagem – foi condenado pelos crimes de organização criminosa, golpe de Estado e tentativa de abolição violenta do Estado democrático de direito, também por 4 a 1. Já a análise sobre dano qualificado e deterioração do patrimônio tombado foi suspensa. Ramagem é hoje deputado federal pelo PL do Rio de Janeiro.
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Mauro Cid e Braga Netto – foram condenados por unanimidade (5 a 0) no crime de tentativa de abolição violenta do Estado democrático de direito. Para os crimes de organização criminosa, golpe de Estado, dano qualificado e deterioração do patrimônio tombado, o placar foi de 4 a 1, novamente com a divergência de Fux.
Prisão dos condenados
Mesmo com a condenação, a prisão não é imediata. Os ministros ainda precisam definir o tamanho das penas de cada condenado.
Depois disso, os advogados podem apresentar embargos, recursos que precisam ser analisados pelo STF antes do início do cumprimento das penas. Ou seja, a prisão só passa a valer quando o processo estiver transitado em julgado e não houver mais possibilidade de recurso.
Atualmente, Jair Bolsonaro e Braga Netto estão presos preventivamente. Bolsonaro cumpre a prisão por desobedecer medidas impostas pelo ministro Alexandre de Moraes, enquanto Braga Netto foi detido por obstrução de Justiça.
Próxima fase: dosimetria
Com as condenações confirmadas, a Primeira Turma do STF passará para a fase de dosimetria, que define a pena específica de cada réu.
Essa etapa exige nova deliberação entre os ministros, considerando o grau de participação de cada condenado na trama golpista.
Se Bolsonaro ou outros réus condenados pelos cinco crimes receberem a pena máxima para cada um, poderão ser sentenciados a até 43 anos de prisão.
Penas por crime
Segundo a legislação penal, as possíveis punições são:
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Tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito: 4 a 8 anos;
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Tentativa de golpe de Estado: 4 a 12 anos;
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Participação em organização criminosa armada: 3 a 8 anos, podendo chegar a 17 anos com agravantes como uso de arma de fogo ou participação de agentes públicos;
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Dano qualificado: 6 meses a 3 anos;
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Deterioração de patrimônio tombado: 1 a 3 anos.
Trama golpista
A denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) apontou que o núcleo central da trama — formado por Bolsonaro e sete ex-ministros e militares — organizou e executou ações entre 2021 e 2023 para tentar impedir a posse e o exercício de mandato do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Para os ministros que votaram pela condenação, as provas apresentadas — como lives, reuniões, documentos, planos golpistas e atos violentos — configuram uma tentativa concreta de ruptura da ordem democrática.
A maioria dos ministros concluiu que a PGR apresentou provas suficientes para condenar Bolsonaro e seus aliados.
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